Médica vítima de transfobia na USP considera afastamento de professor necessário: 'Impunidade não tem mais espaço'

  • 08/08/2024
(Foto: Reprodução)
Stella Branco e a amiga dela, Louise Rodrigues e Silva, foram ofendidas e ameaçadas por docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, por conta de implantação de banheiro conforme identificação de gênero. Caso aconteceu em novembro do ano passado. Médico do HC é suspenso após ofensa a alunas travestis A médica Stella Branco, que foi ofendida e ameaçada pelo professor Jyrson Guilherme Klamt no ano passado, considerou necessário o afastamento dele do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo na segunda-feira (5). Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp O caso, envolvendo ela e a amiga dela, Louise Rodrigues e Silva, aconteceu em novembro, quando as duas, que são travestis, sofreram transfobia por parte do docente da Faculdade de Medicina da USP. Para Stella, a situação não poderia ficar impune. "Tem um peso muito grande, uma força muito grande, um recado muito grande de que a impunidade não tem mais espaço, de que as pessoas não podem simplesmente, a partir do cargo delas, falarem o que quiserem, invadirem o seu espaço, apontarem o dedo na sua cara, te ameaçarem, romperem com seu momento de celebração, simplesmente porque elas têm essa falsa crença de que estão impunes". LEIA TAMBÉM Pela 1ª vez na história, faculdade de medicina da USP forma médicas travestis 'Estamos conquistando outros lugares', diz Stella Branco 'Encontrei meu lugar no mundo', diz Louise Rodrigues e Silva Klamt foi denunciado pelas então alunas por ofendê-las e ameaçá-las. À época, a faculdade tinha acabado de implementar o uso livre de banheiros no prédio, conforme identificação de gênero. "Quando um hospital do porte do HC para e fala 'a gente precisa olhar pra isso, a gente precisa de uma comissão, a gente precisa saber juridicamente como que isso se enquadra, a gente precisa se posicionar frente a isso', mesmo que não seja um afastamento total dele, há uma punição. Uma punição que, inclusive, eu acho que é inédita dentro do hospital", diz Stella. Procurado pela EPTV, afiliada da TV Globo, Klamt não quis comentar o assunto. Com a medida, válida por 180 dias e aplicada em tom punitivo, ele não poderá exercer nenhuma atividade clínica no hospital. A médica Stella Branco, que sofreu transfobia de um professor da USP Ribeirão Preto (SP) considerou o afastamento dele necessário Reprodução/EPTV A publicação do Diário Oficial frisa que "em caso de eventual reincidência, estará o infrator sujeito a penalidade mais severa". A FMRP disse que o caso está em fase de apuração interna e que possíveis medidas só serão tomadas após o término das investigações. Ganho para a representatividade Advogado de Stella e Louise, Everton Reis considerou a decisão do HC um ganho. "Foi um ganho, uma conquista, porque nós entendemos que é necessário buscar a responsabilização de pessoas que não respeitam a individualidade e os direitos de outras, seja em âmbito privado, seja em âmbito público. Principalmente porque, no caso do doutor Jyrson, ele é um servidor público e ele representa a administração pública". Reis disse que a defesa das médicas ainda espera outras punições para o professor, principalmente na esfera criminal. "As investigações estão em andamento. O inquérito policial, a gente sabe que tem todo um trâmite que acaba sendo mais tardio em comparação com as outras esferas, mas ainda não fomos chamados. A Louise e a Stella permanecem aguardando que a polícia judiciária as busque e inicie as tratativas correspondentes para que ele, sim, responda por esse ato tão gravoso e que nós sabemos que tem um nome: transfobia". Tratadas no masculino e ameaçadas O ataque aconteceu em novembro de 2023. Louise Rodrigues e Silva e Stella Branco, as primeiras alunas travestis da história do curso de medicina, contaram que foram ofendidas e ameaçadas pelo professor. O caso aconteceu um dia após a faculdade implementar o uso livre de banheiros no prédio, conforme identificação de gênero. "Esse professor se aproximou já em tom de deboche e ironia sobre a questão do dia anterior [inauguração do banheiro livre] e começou a falar coisas de formas irônicas, pejorativas. Ele emendou e perguntou pra mim qual banheiro eu iria usar a partir de agora. Nesse momento eu devolvi perguntando qual banheiro ele achava que eu deveria utilizar. Ele não respondeu e voltou a falar o quão absurdo ele achava pessoas trans usarem o banheiro de acordo com o gênero que se identificam e que a faculdade já não era mais a mesma", disse Louise. Stella e Louíse participam da inauguração do banheiro livre na faculdade de medicina da USP em Ribeirão Preto, SP Arquivo pessoal As duas jovens ficaram sem reação ao escutar o professor e disseram que ele prosseguiu com ameaças e ofensas. "Aí ele se manifesta dizendo que se a gente usasse o banheiro em que a filha dele estivesse presente, a gente sairia de lá morta. Sem contar que durante toda abordagem ele me tratou no masculino. Já era um professor que me conhecia, sabia meu nome, já tinha passado em uma aula com ele e ele já tinha passado por situações de desrespeito com meu pronome, mas nunca direcionado. Dessa vez ele veio diretamente a mim." Um boletim de ocorrência foi registrado como injúria racial. Procurado pela EPTV na época, o professor disse que não teve a intenção de constranger as alunas e que nunca fez nenhuma atitude transfóbica. Veja a reportagem da EPTV feita em novembro de 2023: Alunas de medicina da USP-RP denunciam transfobia de professor dentro do HC Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto e região

FONTE: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2024/08/08/medica-vitima-de-transfobia-na-usp-considera-afastamento-de-professor-necessario-impunidade-nao-tem-mais-espaco.ghtml


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